sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Já viu um D?

Já viu um D?

Isso mesmo. Um D de verdade.

Um D sem defeito.

É lindo ver um D bem desenhado, decorado. Minha mãe prefere o dourado.

De qualquer forma, o D é de fato um declara às letras abertas

Que não foi fácil ser D de verdade, pois ninguém desenha o D direito.

Para o D dar certo, desenhe o D de cima para baixo,

Depois, desenhe a barriga.

Barriga não, darriga.

De vez em quando, troco o D pelo B

Só que B tem barriga em dobro.

Agora sim, dobro tem D e tem B

Desde que o C não saia do meio,

O B e o D não se confundirão.


terça-feira, 2 de novembro de 2021

Abandono de intelectos

Como posso chegar a esse ponto? Por que acreditar que viver já não vale mais a pena? A melancolia se instala em meu coração, pesando como uma âncora, arrastando-me para o abismo da tristeza. Sinto-me abandonado, desprovido de esperança e propósito. Os intelectos que eu cultivava com tanto zelo, as crenças que eu acreditava serem inabaláveis, agora parecem frágeis e vazias.

Cada dia que passa, vejo que nada mais importa. As coisas que antes me traziam alegria e satisfação agora parecem superficiais e sem sentido. As cores do mundo perderam seu brilho, e o tempo parece ter perdido sua relevância. A intemporalidade toma conta de mim, como se o passado, o presente e o futuro se fundissem em uma única e monótona existência.

Sinto-me desamparado diante da indiferença da vida. Como uma pessoa pode me deixar abaixo de tudo em que acredito? Como posso confiar em algo que parecia tão certo e, de repente, se desvaneceu como fumaça ao vento? A tristeza me consome, corroendo minha alma com uma dor profunda e lancinante.

Os dias passam como uma sucessão de momentos vazios, sem significado. A tristeza se torna uma companheira constante, envolvendo-me em sua escuridão, como uma sombra que não me abandona. Parece que não há saída, que estou preso em um ciclo interminável de desolação.

A melancolia me faz questionar o sentido da vida e da existência. O que é real e o que é ilusão? O que é verdadeiro e o que é efêmero? As respostas escapam de mim, como se fossem miragens fugazes em um deserto árido. A intemporalidade do tempo me confronta com a finitude de tudo, e sinto-me impotente diante dessa realidade avassaladora.

E assim, o abandono de intelectos é um golpe doloroso para a alma. A tristeza e a melancolia podem nos afetar de maneiras profundas e intensas, desafiando nossas crenças e nossa visão de mundo. É um caminho árduo, cheio de incertezas e questionamentos, mas também pode ser uma jornada de autodescoberta e crescimento.

É um convite para olhar para dentro de nós mesmos, para enfrentar nossos medos e angústias, e encontrar maneiras de transcender a tristeza, ressignificar nossa existência e encontrar um novo significado. É uma lembrança de que a vida é complexa e imprevisível, e que as emoções humanas são intrincadas e profundas.

Nesse abandono de intelectos, posso encontrar um refúgio na compreensão de que a tristeza é uma parte inerente da experiência humana, que pode ser superada com o tempo e o autocuidado. Posso aprender a aceitar a intemporalidade do tempo, a abraçar a incerteza e a encontrar beleza nas pequenas coisas.

A tristeza pode ser um lembrete de nossa humanidade. De nossa mortalidade. De nossa finitude.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Só. O momento intemporal.

 Agora o agora. Essa frase resume tudo. É um momento intemporal, um espaço transcende. É o agora, o presente, o único momento real e palpável. Mas, ao mesmo tempo, é o nada. Um sentimento de fragilidade e impotência, como se não fôssemos tão importantes, apenas um absoluto nada. É assim que me sinto ao ouvir a música "Cave" da artista Clann.

Os acordes suaves e a voz melódica de Clann envolvem meu ser, levando-me a um estado de reflexão profunda sobre o significado do nada. A ilusão de viver em um mundo onde pensamos que somos fundamentais para alguém, apenas para descobrir que tudo continua sem nós se nos ausentarmos. É uma verdade dura, um sentimento de insignificância que nos faz questionar nosso propósito e valor.

E assim, agora é só esperar.

É só sentar e esperar.

É só esperar.

Só.

O momento presente se estende em uma eternidade fugaz, onde o nada se mistura com o intemporal. A música de Clann é uma trilha sonora perfeita para esse momento, com suas melodias que parecem transcender o tempo e o espaço. É uma experiência única, uma introspecção profunda em um mundo de emoções e sensações indescritíveis.

Nesses momentos, percebo que o agora é tudo o que temos, e mesmo que nos sintamos como um nada, ainda assim, é um momento intemporal, um espaço de reflexão e autoconhecimento. É uma jornada interior, uma busca por significado em meio ao vazio aparente. E é na música, como "Cave" de Clann, que encontramos uma conexão com o intemporal, uma inspiração que nos leva além dos limites do tempo e do espaço, nos permitindo mergulhar em nosso próprio ser, mesmo que por um breve instante. É um lembrete de que, mesmo sendo apenas um nada em um mundo vasto e complexo, ainda podemos encontrar beleza e significado em nosso próprio ser e na experiência do agora.


O infinito e o nada, duas noções aparentemente antagônicas, mas que coexistem em nossa percepção do tempo e da existência. Mesmo em um único segundo, podemos experimentar uma sensação de infinitude, enquanto ao mesmo tempo, séculos podem parecer passar em um piscar de olhos. É uma dualidade fascinante, que nos leva a refletir sobre a fugacidade da vida e a efemeridade de tudo ao nosso redor.

Em nosso cotidiano, muitas vezes nos vemos imersos em uma corrida contra o tempo, buscando incessantemente cumprir prazos, alcançar metas e perseguir realizações. Somos levados a acreditar que o tempo é algo linear e ininterrupto, que se estende infinitamente à nossa frente. No entanto, quando olhamos mais de perto, percebemos que o tempo é fluido e subjetivo, e que pode se esticar ou encolher dependendo de nossa percepção e experiência.

Em um único segundo, podemos experimentar uma multiplicidade de sensações, emoções e pensamentos. Um segundo pode parecer interminável quando estamos ansiosos, esperando por algo com grande expectativa. Pode parecer eterno quando estamos sofrendo, enfrentando uma dor intensa ou esperando por uma resposta importante. Em contrapartida, um segundo pode passar despercebido quando estamos imersos em atividades rotineiras, distraídos pelo frenesi da vida moderna.

Porém, mesmo em um único segundo, podemos sentir a imensidão do tempo, como se séculos passassem diante de nossos olhos. Momentos de profunda contemplação, reflexão ou introspecção podem nos transportar para um estado atemporal, onde o passado, o presente e o futuro se fundem em uma única experiência. É como se o tempo se dilatasse, expandindo-se para além de nossos limites usuais de percepção.

E é nesse momento que também nos deparamos com o nada, a sensação de que tudo o que conhecemos e valorizamos pode se dissipar em um instante. A efemeridade da vida se revela, e percebemos que tudo o que consideramos importante e significativo pode desaparecer em um piscar de olhos. É uma reflexão profunda sobre a finitude de todas as coisas, a impermanência do mundo e a inevitabilidade do fim.

Essa consciência do infinito e do nada pode ser desconcertante, mas também pode ser uma fonte de inspiração e sabedoria. Nos lembra da importância de valorizar o momento presente, de viver plenamente cada segundo, pois o tempo é um recurso precioso que não pode ser recuperado. Nos convida a buscar significado e propósito em meio à efemeridade da vida, a cultivar relacionamentos, a apreciar a beleza ao nosso redor e a buscar o que realmente importa.

E assim, mesmo em um segundo, podemos experimentar uma transformação profunda, onde séculos podem passar em um segundo e um segundo pode se estender por séculos. É uma jornada de compreensão do tempo e da existência, uma reflexão sobre nossa própria finitude e uma oportunidade de viver plenamente, conscientes de que tudo acabará um dia. É uma lembrança de que a vida é preciosa e que cada momento é único e

sábado, 4 de setembro de 2021

Olá, Heliot! Eu sou Heliot também.

A música começa a tocar, e de repente sou transportado para outro lugar. Uma cena de um filme, um momento marcante, uma emoção avassaladora. As notas envolvem meu ser, acionam uma profunda conexão emocional que mexe comigo de maneiras inexplicáveis. Por que somos tomados de tristezas após ouvir um som, uma música em uma cena de um filme?

Lembro-me do personagem Heliot do seriado Mr. Robot em sua última cena na 4ª temporada. Suas palavras ressoam em minha mente, ecoam em meu coração. Ele expressa suas dúvidas, suas angústias, suas lutas internas, e eu me identifico com ele em um nível profundo. Sinto-me impotente diante de tudo que conheço, de tudo que desejo e de todos ao meu redor.

A música que acompanha aquela cena é "Outro" da banda M83. As notas etéreas, os acordes melancólicos e a voz suave do vocalista me envolvem em uma atmosfera de tristeza e nostalgia. É como se a música capturasse perfeitamente a emoção do momento, amplificando-a em meu coração.

A cena e a música me levam a uma crise interna. É como se as barreiras que eu tinha construído ao meu redor desabassem, e eu me vejo confrontando minhas próprias inseguranças, medos e incertezas. É um momento de vulnerabilidade, em que a tristeza se mistura com a introspecção e a reflexão.

As palavras de Heliot e a música de fundo despertam em mim uma avalanche de emoções. Sinto-me sobrecarregado, confuso, perdido. A tristeza se torna um turbilhão dentro de mim, e não consigo controlar minhas lágrimas. É como se a música tivesse o poder de abrir uma ferida em meu coração, expor minhas fragilidades e me fazer confrontar a realidade de forma crua e dolorosa.

A música "Outro" é um lembrete de que a arte tem o poder de tocar nossa alma de maneiras profundas e transformadoras. É como se a música tivesse uma linguagem própria, capaz de expressar emoções complexas que muitas vezes não conseguimos colocar em palavras. Ela nos conecta com nossa humanidade, com nossas experiências compartilhadas de amor, perda, saudade e nostalgia.

A tristeza que sinto ao ouvir essa música é uma lembrança de que a vida é efêmera, que nem tudo está sob nosso controle e que enfrentamos constantemente desafios e incertezas. Mas também é um convite para olhar para dentro de mim mesmo, para compreender minhas emoções, aceitar minha vulnerabilidade e encontrar formas de lidar com as adversidades.

Assim como Heliot, eu também me vejo confrontando minhas próprias lutas internas, minhas inseguranças e medos. A música é como um espelho que reflete minha própria alma, me levando a questionar e refletir sobre quem eu sou e como enfrento os desafios da vida.


Tradução da música Outro - M83.

"Eu sou o rei da minha terra
Enfrentando tempestades de poeira
Eu vou lutar até o fim
Criaturas dos meus sonhos - levantem e dancem comigo!
Agora e para sempre
Eu sou seu REI!"

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Pra que viver para sempre?

Meus brinquedos nunca se quebravam. E foi assim que entendi que embora nada durasse para sempre, eu poderia muito bem me atualizar com coisas novas. Minha mãe sempre dizia que eu não tinha cuidado com as coisas, e minha esposa diz o mesmo hoje comigo. Não vejo motivos para desespero quando na verdade estamos lidando com algo que quebrará mais cedo ou tarde. Nem eu mesmo irei durar para sempre.

Assim como a música "Forever Young" do cantor Alphaville, que fala sobre a eterna juventude e a busca por uma vida plena e significativa, eu também aprendi que a vida é efêmera, e que tudo tem seu tempo. O corpo, inevitavelmente, se acabará qualquer dia desses, e não penso em ficar triste com isso. Querer viver mais, todos querem, mas preciso me lembrar que o morrer é o sentido da vida. É quando eu morrer que estarei dando sentido a tudo que vivi.

Apegar-se demasiadamente às coisas materiais, assim como aos anos que se passam, pode nos levar a um ciclo de desgaste emocional. É importante compreender que tudo tem seu ciclo de vida, e que a impermanência faz parte da nossa jornada. É como uma música que toca, encanta e se encerra, mas deixa uma marca na nossa memória.

A letra de "Forever Young" nos convida a aproveitar cada momento da vida, a viver intensamente e a aceitar as mudanças que o tempo traz. Assim como os brinquedos que se quebram, nós também nos transformamos ao longo do tempo, e é natural que as coisas mudem ao nosso redor. E mesmo que não possamos ser jovens para sempre, podemos sempre manter uma atitude jovial em relação à vida, buscando novas experiências e aprendendo com cada etapa.

É verdade que todos queremos viver mais e aproveitar o máximo possível, mas é importante lembrar que a finitude é o que dá valor à nossa existência. É saber que cada dia é uma oportunidade única de viver intensamente, de criar memórias, de amar e de deixar uma marca positiva no mundo.

Portanto, assim como os brinquedos que se quebram, eu também compreendi que a vida é passageira e que o sentido está em viver plenamente cada momento, sabendo que o fim é inevitável. E quando chegar a hora de partir, quero deixar uma história de vida que tenha valido a pena, assim como a melodia eterna de "Forever Young", que continuará ecoando mesmo depois que eu não estiver mais aqui.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Perigos de Escola.


A infância fica engraçada quando a aproveitamos. Correr na rua, soltar pipas, jogar peões, jogar bolinha de gude, brincar de esconde-esconde, estrela nova sela, jogar taco na rua, futebol, vôlei, pega-pega e andar de carrinho de rolemã eram as coisas que mais fazíamos naquele bairro. Não tínhamos computadores, videogames (bom, eu não, mas o Alexandre, o 'boquinha', tinha um Atari), não existia internet, Orkut, MySpace, Facebook, nem mesmo sabia o que era "Chat"; palavras novas para uma nova geração. Geração que interage no mundo virtual. Naquela época, telefone só aquele amarelo com um formato de orelha bem grande que ficava na rua, uma caixa pesada e vermelha onde para se conseguir ligar, tinha que depositar fichas para poder falar por 3 minutos, mas antes, tinha que gastar o dedo girando por várias e várias vezes a "roleta de números". Imagine se existisse um "0800" de hoje naquela época... imagine como seria ter que digitar um 0800 900 7000. "-Vá até o final, senão terá que discar tudo novamente".

Hoje, vejo uma nova geração; aqueles que ficam na internet interagindo com amigos através de comunicadores instantâneos, ligam suas 'webcams' e fazem suas videoconferências, compartilham fotos, músicas, palavras de afeto e carinho uns com os outros. Nesta nova geração também existem brigas virtuais, fofocas, alguns mais engraçadinhos dão em cima da namoradinha dos outros e as engraçadinhas dando bola. Um mundo totalmente diferente do que eu conheci na década de 80. Hoje, tudo é mais rápido. Antes eram cartas, hoje são "e-mails", antes comprávamos fitas k7 para gravarmos aproximadamente 10 músicas e algumas vezes, para poupar dinheiro, regravávamos outras músicas por cima daquelas.

Hoje temos o "mp3" em tocadores especiais capazes de armazenar milhares de músicas. Eu ainda era menino e não podia ver uma fita no chão que logo a pegava, na verdade, nem sei o porquê pegava aquilo, pois eu até então não tinha um tocador de fitas k7 nem de disco de vinil. A evolução das coisas começou quando meu pai trouxe para dentro de casa o primeiro rádio que pegava FM. Era um rádio de carro acoplado a um suporte que permitia ligarmos o aparelho em uma tomada de energia elétrica. "-Aquilo que era som -". Muito mais alto que o rádio velho da minha mãe que só pegava AM e, além disso, as músicas eram melhores. Tocavam músicas em inglês. Lembro-me de uma que marcou muito quando meu pai chegou com aquele rádio e o ligou pela primeira vez, a música que ficava o tempo inteiro dizendo: "dá, dá, dá...", numa batida freneticamente dançante.

Naquela batida freneticamente dançante, meus pais pararam para ver os filhos desajeitadamente dançando. Acredito que, empolgados pelo fato de gostarem tanto de música, eles compraram, na antiga Mappin Magazine, um tão desejado tocador e gravador de fitas cassetes. Era muito interessante aquela tecnologia moderna de gravação portátil. Não era como os gravadores de hoje em dia. Aquele era apenas um gravador, sem rádio ou lugares para embutir alguma coisa. Nada. Lembro-me de que eu sofria de um problema de respiração pelo nariz, o que me fazia roncar quando dormia. Um certo dia, meu pai pegou aquele gravador e me gravou dormindo por quase meia hora, roncando acompanhado pelo som de um grilo que estava dentro de casa. Eu roncava e o bendito grilo cantava. Aquilo me deu tanta raiva, a ponto de esperar a primeira oportunidade para acabar com aquela fita. E assim o fiz.

Ainda eufórico com o novo equipamento, ouvia os amigos do nosso time de futebol, que já tinham aquilo, para me informar como poderia manter aquele equipamento funcionando perfeitamente. Entre uma conversa e outra, alguém citou a palavra "óleo"; ora, eu, inocente e sem saber o mal que causaria ao equipamento, mal podia esperar para chegar em casa e testar o "milagroso óleo de cozinha" (que era o único tipo de óleo que eu conhecia naquela idade).

Ao chegar em casa, minha vó estava no quintal, conferindo os resultados do Jogo do Bicho, que era o que mais gostava de fazer. Ela jogava muito e muitas vezes eu ia até o Bar do Japonês, o Bar do senhor Jadir ou o Carlinhos para fazer o joguinho para minha vó. Ela prestava atenção em todas as nossas conversas e relatos para ver se captava algum número que trouxesse sorte a ela. Algumas vezes ganhava e outras não, mas ela gostava muito daquilo.

"- Benção, Vó!" e corri para a cozinha. Sem tirar a roupa suja de terra, coloquei em um "copo de extrato de tomate" (naquela época, usávamos muito os extratos de tomate que vinham em embalagens de vidro, para que ao final servisse como copo para tomar aquele cafezinho). Enchi o copo de óleo, peguei o gravador pela alça e corri para o quintal. Ali, comecei a despejar óleo dentro do gravador por todos os lados, pela abertura onde se colocava a fita, nos alto-falantes, onde se colocavam as pilhas, entre os botões, enfim, o óleo de cozinha estava por toda parte. "- Agora sim ficará melhor", pensei.

Quando liguei o meu velho amigo, ele não funcionava mais. Mais uma vez, o desespero tomou conta de mim. Meus pais não podiam ver aquele gravador que me deram com tanto carinho naquele estado, mortalmente afogado pelo óleo de cozinha. Foi então que tentei esconder o "defunto daquele gravador" para que meus pais não vissem, mas, quando minha mãe chegou, questionou onde estava o gravador, porque queria gravar algo. Trouxe o gravador ensopado de óleo e minha mãe perguntou o que eu havia feito. "- Nada", foi a minha resposta. Não apanhei naquele dia, mas me prometeram nunca mais me dar nada.


Mas, como todos nós sabemos e conhecemos nossos pais, o "nunca" quer dizer "um dia te dou outro" ou "um outro dia eu te dou outra coisa". E foi assim que aconteceu. Passado mais um tempo, o presente não foi um gravador, e sim uma caixa de vitrola cor de laranja, onde, ao abrir, numa metade ficava um auto-falante e na outra se colocava o disco de vinil para tocar. Aquilo sim me animou a gostar ainda mais de música. Michael Jackson, Xuxa, Fofão, Trem da Alegria, todos eles tocavam na minha pequena vitrolinha. Bons tempos e boas músicas eram aquelas. Sempre morei na zona sul de São Paulo. Meus pais me matricularam em uma escola municipal chamada Linneu Prestes. Naquela época, naquele lugar, se fazia a pré-escola e o primeiro grau completo, da primeira até a oitava série. Estava animado, pois muitos garotos já iam à escola, mas quando cheguei lá, pensei que minha mãe iria entrar comigo. Foi quando comecei a chorar. Chorei tanto que perdi até os sentidos de onde estava. Anestesiado pelo choro e consolado pela tia Ana, prossegui no meu primeiro dia de aula. E assim foi o segundo, o terceiro e depois parei de chorar, pois havia feito um amigo. Michaelli, um garoto filho de italiano e que, por coincidência, morava no caminho da minha casa. O Michaelli tinha tudo, vídeo game, bolas, brinquedos, playmobil, pogobol, entre outros brinquedos que o pai dele, por ser bem de vida, comprava para ele. Era do tipo que contava vantagem em tudo: "meu pai me deu isso", "meu pai fez isso pra mim", "meu pai me deixa fazer isso". Mas era meu amigo.

Muitas pessoas me perguntam como adquiri a cicatriz em minha testa. Foi assim: era um dia de muita euforia, antecedendo as férias de julho, aquela tão tradicional reunião de pais e mestres. A tia Ana havia alertado a todos que era para brincar longe da sala de aula onde aconteceria a reunião. Eu e alguns colegas gostávamos de correr nos corredores e no pátio da escola e derrapar, já que o piso era liso, e usávamos aquele "Conga" vermelho e branco.


Não me lembro quem teve a ideia de ir ao banheiro que ficava próximo à sala de aula, só sei que parecia uma cena para o ator Tom Cruise fazer no filme Missão Impossível. Para que a professora não nos visse, teríamos de correr para o banheiro deslizando com os sapatos no chão. Um garoto foi o primeiro, o Michaelli foi o segundo e eu fui o terceiro, só que quando deslizei, não consegui parar meus pés e bati com a cabeça exatamente na quina da porta próxima à sala de aula. Meio tonto e sem fala, coloquei a mão na cabeça e, quando vi sangue, abri a boca para chorar. Professores, pais, alunos, todos correram para ver o que tinha acontecido. O sangue esguichava e não parava. Fui colocado em um carro e levado ao pronto-socorro de Santo Amaro onde levei meus primeiros pontos. Foi ali que os médicos informaram do meu problema de hemorragia classe II, pois havia perdido muito sangue até ser socorrido. Da pré-escola à quarta série, foi algo muito marcante. Nunca gostava de estudar.

Escola, para mim, era o último lugar onde queria estar, mas naquele momento tudo era mágico. Descobertas, letras, números, contas e suas resoluções, verbos, ciências. Descobri que o mundo era gigantesco e que eu era apenas mais um. Vi que o mundo era atrativo, apaixonante, sedutor. Aprendi os valores morais e percebi que ser uma prostituta não era algo bom, pois todos na escola xingavam uns aos outros dizendo que a mãe estava na rua da Matriz. Aprendi sobre valores financeiros e a dar valor ao dinheiro e às coisas que ele comprava. Aprendi que fazer compras no supermercado Sé era algo difícil para uma família de poucas posses como a minha, e fazer compras no Carrefour pior ainda. Estava vivendo a fase das descobertas e dos conflitos dentro de mim mesmo. Ver amigos com lancheiras melhores que a sua, ver amigos com mochilas melhores, ver amigos com tênis melhores; mas meus pais continuavam lutando e trabalhando para sustentar a casa com três filhos, e isso era um grande desafio. Muitas famílias naquela época enfrentavam as mesmas dificuldades, e outras enfrentam hoje em dia, ou até mesmo atualmente. Famílias que lutam para dar uma educação digna para seus filhos, para oferecer comida saudável em um país que pouco se importa com seus cidadãos. Já conheci muitos pais de família que perderam a cabeça, abandonando filhos, mulher e partindo. Mas meus pais nunca perderam a cabeça, mesmo em meio às dificuldades de observar as mudanças nas crianças que cresciam a cada dia.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Sem título e sem vida.

No dia em que mais precisei, não encontrei ninguém que verdadeiramente me compreendesse. A solidão me envolveu de forma avassaladora. Um quarto escuro, repleto de dentes afiados prontos para me morder. Senti-me perdido, à deriva, em meio à insanidade que parecia reinar soberana. Corri desesperado em direção ao vazio, buscando uma saída que nunca se mostrava.

A solidão é uma sorte cruel reservada apenas aos excepcionais. É uma prisão implacável onde ser compreendido é uma quimera, e entender-se a si mesmo é uma tarefa impossível. Senti-me perdido, confuso, mergulhado em um oceano de incompreensão.

Posso me perder pelo mundo afora, vagando sem rumo, mas jamais posso me perder aqui, cercado por aqueles que jamais compreenderão uma única palavra que eu diga, ou um simples gesto que eu faça. A dor de não ser interpretado, de ter meus sentimentos ignorados, é insuportável. É como ter minha alma dilacerada, e meu coração partido em mil pedaços.

A solidão é uma ferida profunda que corrói a alma. É um vazio devastador que me consome por dentro. É a sensação de estar preso em um labirinto sem saída, onde as lágrimas e a tristeza são companheiras constantes. É uma angústia que dilacera minha mente e dilui minha esperança.

Nesse momento, a solidão se torna um fardo insuportável, uma carga pesada demais para suportar. Mas ainda assim, sigo em frente, lutando para encontrar conexão verdadeira em meio à escuridão, ansiando pelo toque acolhedor da compreensão e da empatia. Pois, mesmo em meio às sombras da solidão, a chama da esperança continua acesa dentro de mim, guiando-me para um futuro onde a compreensão e a conexão prevaleçam.

Já viu um D?

Já viu um D? Isso mesmo. Um D de verdade. Um D sem defeito. É lindo ver um D bem desenhado, decorado. Minha mãe prefere o dourado. De qualqu...