sexta-feira, 14 de janeiro de 2000

Nos meus dias

Após decidir revisitar o passado em busca de justificativas para o presente, deparei-me com milhares de questionamentos. Seria diferente se eu... sei lá. Na verdade, nunca fui feliz. Sempre agi da forma que achava ser correta, mas ninguém via assim. Vi-me como o moleque desobediente, o amigo retardado, o namorado incompreendido, o esposo ausente. Na minha cabeça, pensei várias vezes em desistir de existir, por ser excluído e mal entendido, mas deixar tudo e todos que gosto seria um sacrifício maior do que posso oferecer. Lacunas. Vejo minha vida como uma numeração de 1 a 10, faltando 6 números. É impossível ser quem eles querem. Do jeito que eles definem como perfeito. Mas e se eu não posso ser quem sou, serei apenas o projeto que idealizam? Não, prefiro ser assim. Esquecido e distraído. Mal amado e mal compreendido. Apenas eu, no mundo, caminhando do nada para o nada. Não entendo o que falam. Não entendo uma única coisa que dizem. Quero ficar só. Quero ficar comigo mesmo, e assim está bom. Por que me querem nos bares e em conversas altas que não me interessam? Por quê? Deixem-me em paz. Ninguém sabe quando choro, nos meus sonhos e encontros com a morte, com o silêncio, com a solidão. É difícil acreditar, mas não acredito na vida. Nem mesmo na morte quando ela se apresenta a mim. Ela mente a cada instante. Todos mentem, e não confio em ninguém. Meus pais e meus filhos me abandonarão, e ninguém me verá depois de tudo. Ninguém conseguirá fazer meu coração bater mais rápido do que precisa. Minha inconstância e minha falta de memórias. Hoje mesmo vejo minha mente se perder naquilo que não deveria. Vejo-a emudecer quando deveria falar, vejo-a falando quando deveria se calar. Não aguento mais. Quero gritar, uivar, cantar, tamborilar meus dedos em alguma superfície. Quero roer minhas unhas, morder plásticos e liberar toda a raiva assim. Posso? Esses são os meus dias. Olhem para mim. Como uma formiga correndo para escapar de pés grandes e abismos profundos sem fim. Trevas que me cercam e dominam minha mente durante o sono. Nu. Pobre. Miserável. Insuportável. Com frio. Sozinho. No escuro. O nada. Permitam-me cansar. Deixem-me sentar. Parar um pouco. Permitam-me amarrar minhas mãos com uma faixa. Deixem-me ficar sem camisa e andar sobre pedras geladas. Sem compromissos. Sem hora para voltar. Eu não sou quem sou. Sou um produto criado pela sociedade. Tenho que ser assim? Todos brigam. Todos lutam até a morte por seus direitos e eu não posso lutar para ser quem realmente sou? Quero acordar desse sono. Quero sair desse sonho. Quero viver aqui. Onde me vejo agora. E esse lugar não é o mesmo que eu vejo.

Já viu um D?

Já viu um D? Isso mesmo. Um D de verdade. Um D sem defeito. É lindo ver um D bem desenhado, decorado. Minha mãe prefere o dourado. De qualqu...