Da cerca, eu via outro mundo. Sentei no banco do quintal e, entre os espaços das madeiras da cerca, observava minha mãe perto do pé de goiaba. Com uma mangueira ao lado, regava as couves e colhia os tomates. As mandiocas foram plantadas nos extremos do terreno. Do lado de cima, fazendo a divisão com outro terreno, estava a tão assombrada bananeira. Boatos desde a nossa chegada àquele bairro diziam que ali morava uma cobra. Sempre tive medo de chegar até aquele lugar, que era mistificado pela Dona Inês, uma senhora solitária que guardava quinquilharias em sua casa. Ela não tinha filhos nem parentes, e vivia na solidão com seus catados.
Uma vez, ainda pequeno, peguei uma enxada para fazer um campo de futebol naquele lugar. Não imaginava nada. Estava ali. Não era um sonho. Estava ali.
Com muito receio, comecei a me aproximar da bananeira, que tinha um aspecto imponente e assustador. A lenda da cobra moradora daquela árvore ecoava em minha mente, mas a curiosidade era mais forte. Aos poucos, fui avançando e me aproximando da bananeira, observando os detalhes das folhas e dos cachos de bananas.
Foi então que ouvi um barulho vindo do alto da árvore. Meu coração disparou e, instintivamente, dei um pulo para trás. Para minha surpresa, vi uma figura se movendo entre as folhas. Era uma mulher idosa, vestida com roupas esfarrapadas e com longos cabelos brancos.
Ela desceu da árvore com agilidade e se aproximou de mim. Era Dona Inês, a misteriosa senhora que morava ali. Seus olhos eram penetrantes, mas seu olhar se suavizou ao me ver assustado.
Ela me explicou que, na verdade, não havia cobra alguma na bananeira. Aquela era apenas uma história inventada por ela para manter as pessoas afastadas e garantir sua privacidade. Ela tinha se afastado do convívio social e vivia ali sozinha, cuidando de suas plantas e de suas quinquilharias.
