sábado, 27 de janeiro de 2018

Perigos de Escola.


A infância fica engraçada quando a aproveitamos. Correr na rua, soltar pipas, jogar peões, jogar bolinha de gude, brincar de esconde-esconde, estrela nova sela, jogar taco na rua, futebol, vôlei, pega-pega e andar de carrinho de rolemã eram as coisas que mais fazíamos naquele bairro. Não tínhamos computadores, videogames (bom, eu não, mas o Alexandre, o 'boquinha', tinha um Atari), não existia internet, Orkut, MySpace, Facebook, nem mesmo sabia o que era "Chat"; palavras novas para uma nova geração. Geração que interage no mundo virtual. Naquela época, telefone só aquele amarelo com um formato de orelha bem grande que ficava na rua, uma caixa pesada e vermelha onde para se conseguir ligar, tinha que depositar fichas para poder falar por 3 minutos, mas antes, tinha que gastar o dedo girando por várias e várias vezes a "roleta de números". Imagine se existisse um "0800" de hoje naquela época... imagine como seria ter que digitar um 0800 900 7000. "-Vá até o final, senão terá que discar tudo novamente".

Hoje, vejo uma nova geração; aqueles que ficam na internet interagindo com amigos através de comunicadores instantâneos, ligam suas 'webcams' e fazem suas videoconferências, compartilham fotos, músicas, palavras de afeto e carinho uns com os outros. Nesta nova geração também existem brigas virtuais, fofocas, alguns mais engraçadinhos dão em cima da namoradinha dos outros e as engraçadinhas dando bola. Um mundo totalmente diferente do que eu conheci na década de 80. Hoje, tudo é mais rápido. Antes eram cartas, hoje são "e-mails", antes comprávamos fitas k7 para gravarmos aproximadamente 10 músicas e algumas vezes, para poupar dinheiro, regravávamos outras músicas por cima daquelas.

Hoje temos o "mp3" em tocadores especiais capazes de armazenar milhares de músicas. Eu ainda era menino e não podia ver uma fita no chão que logo a pegava, na verdade, nem sei o porquê pegava aquilo, pois eu até então não tinha um tocador de fitas k7 nem de disco de vinil. A evolução das coisas começou quando meu pai trouxe para dentro de casa o primeiro rádio que pegava FM. Era um rádio de carro acoplado a um suporte que permitia ligarmos o aparelho em uma tomada de energia elétrica. "-Aquilo que era som -". Muito mais alto que o rádio velho da minha mãe que só pegava AM e, além disso, as músicas eram melhores. Tocavam músicas em inglês. Lembro-me de uma que marcou muito quando meu pai chegou com aquele rádio e o ligou pela primeira vez, a música que ficava o tempo inteiro dizendo: "dá, dá, dá...", numa batida freneticamente dançante.

Naquela batida freneticamente dançante, meus pais pararam para ver os filhos desajeitadamente dançando. Acredito que, empolgados pelo fato de gostarem tanto de música, eles compraram, na antiga Mappin Magazine, um tão desejado tocador e gravador de fitas cassetes. Era muito interessante aquela tecnologia moderna de gravação portátil. Não era como os gravadores de hoje em dia. Aquele era apenas um gravador, sem rádio ou lugares para embutir alguma coisa. Nada. Lembro-me de que eu sofria de um problema de respiração pelo nariz, o que me fazia roncar quando dormia. Um certo dia, meu pai pegou aquele gravador e me gravou dormindo por quase meia hora, roncando acompanhado pelo som de um grilo que estava dentro de casa. Eu roncava e o bendito grilo cantava. Aquilo me deu tanta raiva, a ponto de esperar a primeira oportunidade para acabar com aquela fita. E assim o fiz.

Ainda eufórico com o novo equipamento, ouvia os amigos do nosso time de futebol, que já tinham aquilo, para me informar como poderia manter aquele equipamento funcionando perfeitamente. Entre uma conversa e outra, alguém citou a palavra "óleo"; ora, eu, inocente e sem saber o mal que causaria ao equipamento, mal podia esperar para chegar em casa e testar o "milagroso óleo de cozinha" (que era o único tipo de óleo que eu conhecia naquela idade).

Ao chegar em casa, minha vó estava no quintal, conferindo os resultados do Jogo do Bicho, que era o que mais gostava de fazer. Ela jogava muito e muitas vezes eu ia até o Bar do Japonês, o Bar do senhor Jadir ou o Carlinhos para fazer o joguinho para minha vó. Ela prestava atenção em todas as nossas conversas e relatos para ver se captava algum número que trouxesse sorte a ela. Algumas vezes ganhava e outras não, mas ela gostava muito daquilo.

"- Benção, Vó!" e corri para a cozinha. Sem tirar a roupa suja de terra, coloquei em um "copo de extrato de tomate" (naquela época, usávamos muito os extratos de tomate que vinham em embalagens de vidro, para que ao final servisse como copo para tomar aquele cafezinho). Enchi o copo de óleo, peguei o gravador pela alça e corri para o quintal. Ali, comecei a despejar óleo dentro do gravador por todos os lados, pela abertura onde se colocava a fita, nos alto-falantes, onde se colocavam as pilhas, entre os botões, enfim, o óleo de cozinha estava por toda parte. "- Agora sim ficará melhor", pensei.

Quando liguei o meu velho amigo, ele não funcionava mais. Mais uma vez, o desespero tomou conta de mim. Meus pais não podiam ver aquele gravador que me deram com tanto carinho naquele estado, mortalmente afogado pelo óleo de cozinha. Foi então que tentei esconder o "defunto daquele gravador" para que meus pais não vissem, mas, quando minha mãe chegou, questionou onde estava o gravador, porque queria gravar algo. Trouxe o gravador ensopado de óleo e minha mãe perguntou o que eu havia feito. "- Nada", foi a minha resposta. Não apanhei naquele dia, mas me prometeram nunca mais me dar nada.


Mas, como todos nós sabemos e conhecemos nossos pais, o "nunca" quer dizer "um dia te dou outro" ou "um outro dia eu te dou outra coisa". E foi assim que aconteceu. Passado mais um tempo, o presente não foi um gravador, e sim uma caixa de vitrola cor de laranja, onde, ao abrir, numa metade ficava um auto-falante e na outra se colocava o disco de vinil para tocar. Aquilo sim me animou a gostar ainda mais de música. Michael Jackson, Xuxa, Fofão, Trem da Alegria, todos eles tocavam na minha pequena vitrolinha. Bons tempos e boas músicas eram aquelas. Sempre morei na zona sul de São Paulo. Meus pais me matricularam em uma escola municipal chamada Linneu Prestes. Naquela época, naquele lugar, se fazia a pré-escola e o primeiro grau completo, da primeira até a oitava série. Estava animado, pois muitos garotos já iam à escola, mas quando cheguei lá, pensei que minha mãe iria entrar comigo. Foi quando comecei a chorar. Chorei tanto que perdi até os sentidos de onde estava. Anestesiado pelo choro e consolado pela tia Ana, prossegui no meu primeiro dia de aula. E assim foi o segundo, o terceiro e depois parei de chorar, pois havia feito um amigo. Michaelli, um garoto filho de italiano e que, por coincidência, morava no caminho da minha casa. O Michaelli tinha tudo, vídeo game, bolas, brinquedos, playmobil, pogobol, entre outros brinquedos que o pai dele, por ser bem de vida, comprava para ele. Era do tipo que contava vantagem em tudo: "meu pai me deu isso", "meu pai fez isso pra mim", "meu pai me deixa fazer isso". Mas era meu amigo.

Muitas pessoas me perguntam como adquiri a cicatriz em minha testa. Foi assim: era um dia de muita euforia, antecedendo as férias de julho, aquela tão tradicional reunião de pais e mestres. A tia Ana havia alertado a todos que era para brincar longe da sala de aula onde aconteceria a reunião. Eu e alguns colegas gostávamos de correr nos corredores e no pátio da escola e derrapar, já que o piso era liso, e usávamos aquele "Conga" vermelho e branco.


Não me lembro quem teve a ideia de ir ao banheiro que ficava próximo à sala de aula, só sei que parecia uma cena para o ator Tom Cruise fazer no filme Missão Impossível. Para que a professora não nos visse, teríamos de correr para o banheiro deslizando com os sapatos no chão. Um garoto foi o primeiro, o Michaelli foi o segundo e eu fui o terceiro, só que quando deslizei, não consegui parar meus pés e bati com a cabeça exatamente na quina da porta próxima à sala de aula. Meio tonto e sem fala, coloquei a mão na cabeça e, quando vi sangue, abri a boca para chorar. Professores, pais, alunos, todos correram para ver o que tinha acontecido. O sangue esguichava e não parava. Fui colocado em um carro e levado ao pronto-socorro de Santo Amaro onde levei meus primeiros pontos. Foi ali que os médicos informaram do meu problema de hemorragia classe II, pois havia perdido muito sangue até ser socorrido. Da pré-escola à quarta série, foi algo muito marcante. Nunca gostava de estudar.

Escola, para mim, era o último lugar onde queria estar, mas naquele momento tudo era mágico. Descobertas, letras, números, contas e suas resoluções, verbos, ciências. Descobri que o mundo era gigantesco e que eu era apenas mais um. Vi que o mundo era atrativo, apaixonante, sedutor. Aprendi os valores morais e percebi que ser uma prostituta não era algo bom, pois todos na escola xingavam uns aos outros dizendo que a mãe estava na rua da Matriz. Aprendi sobre valores financeiros e a dar valor ao dinheiro e às coisas que ele comprava. Aprendi que fazer compras no supermercado Sé era algo difícil para uma família de poucas posses como a minha, e fazer compras no Carrefour pior ainda. Estava vivendo a fase das descobertas e dos conflitos dentro de mim mesmo. Ver amigos com lancheiras melhores que a sua, ver amigos com mochilas melhores, ver amigos com tênis melhores; mas meus pais continuavam lutando e trabalhando para sustentar a casa com três filhos, e isso era um grande desafio. Muitas famílias naquela época enfrentavam as mesmas dificuldades, e outras enfrentam hoje em dia, ou até mesmo atualmente. Famílias que lutam para dar uma educação digna para seus filhos, para oferecer comida saudável em um país que pouco se importa com seus cidadãos. Já conheci muitos pais de família que perderam a cabeça, abandonando filhos, mulher e partindo. Mas meus pais nunca perderam a cabeça, mesmo em meio às dificuldades de observar as mudanças nas crianças que cresciam a cada dia.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Sem título e sem vida.

No dia em que mais precisei, não encontrei ninguém que verdadeiramente me compreendesse. A solidão me envolveu de forma avassaladora. Um quarto escuro, repleto de dentes afiados prontos para me morder. Senti-me perdido, à deriva, em meio à insanidade que parecia reinar soberana. Corri desesperado em direção ao vazio, buscando uma saída que nunca se mostrava.

A solidão é uma sorte cruel reservada apenas aos excepcionais. É uma prisão implacável onde ser compreendido é uma quimera, e entender-se a si mesmo é uma tarefa impossível. Senti-me perdido, confuso, mergulhado em um oceano de incompreensão.

Posso me perder pelo mundo afora, vagando sem rumo, mas jamais posso me perder aqui, cercado por aqueles que jamais compreenderão uma única palavra que eu diga, ou um simples gesto que eu faça. A dor de não ser interpretado, de ter meus sentimentos ignorados, é insuportável. É como ter minha alma dilacerada, e meu coração partido em mil pedaços.

A solidão é uma ferida profunda que corrói a alma. É um vazio devastador que me consome por dentro. É a sensação de estar preso em um labirinto sem saída, onde as lágrimas e a tristeza são companheiras constantes. É uma angústia que dilacera minha mente e dilui minha esperança.

Nesse momento, a solidão se torna um fardo insuportável, uma carga pesada demais para suportar. Mas ainda assim, sigo em frente, lutando para encontrar conexão verdadeira em meio à escuridão, ansiando pelo toque acolhedor da compreensão e da empatia. Pois, mesmo em meio às sombras da solidão, a chama da esperança continua acesa dentro de mim, guiando-me para um futuro onde a compreensão e a conexão prevaleçam.

Meu Começo

Não quero cruz e nem orações. Não quero preces, talvez lamentações e dor. Talvez. Não quero padres nem pastores. Não fui ovelha e nem filho de verdade. Não quero flores. Só o corpo que me pertence eu quero. O choro é bom. Faz refletir e lembrar. O choro lava a alma e limpa o corpo, Traz de dentro verdadeiros sentimentos Seja de ódio ou o contrário. Que a dor da perda seja mensurada Porque maior que seja a dor, um dia será curada Que seja assim minha ida Como na minha chegada. Por acaso só, Porque não vim de lugar nenhum E para nenhum lugar irei. Ficarei aqui. Amém.

Diante deste pensamento, fecho minhas resoluções:

Quero ser lembrado por quem realmente me conheceu.

A morte é o destino inevitável de todos os seres vivos.

Não acredito que a vida após a morte.

A saudade será eterna, mas a dor sempre irá diminuir com o tempo.

Não existe amor. Não acredite nisso.

A vida é efêmera, por isso devemos valorizar cada momento.

As palavras são boas, mas o silêncio na maioria das vezes é bem melhor.

A morte não é o fim, mas sim o início de uma nova jornada para os que ficam.

Já viu um D?

Já viu um D? Isso mesmo. Um D de verdade. Um D sem defeito. É lindo ver um D bem desenhado, decorado. Minha mãe prefere o dourado. De qualqu...