domingo, 14 de janeiro de 1996

Era mil novecentos oitenta e alguma coisa

Os gritos ecoavam em meus ouvidos, mas eu não conseguia emitir uma palavra sequer. Os tapas na cabeça eram constantes, como uma chuva incessante de violência física. Xingamentos e palavras ofensivas eram jogadas em minha direção por alunos e até mesmo por alguns professores. Os olhares cruéis pareciam queimar minha pele, como se fossem facas afiadas perfurando minha alma. Eu não suportava mais aquilo. Num impulso, eu corri. Cruzei os dois pátios da escola em desespero, sentindo o coração bater descompassado no peito. Cheguei ao banheiro, onde me escondi, lavando o rosto em uma tentativa vã de apagar a dor que sentia. Naquele momento, decidi que não voltaria à sala de aula, nem mesmo para buscar o que havia deixado para trás. Era apenas eu e minhas roupas, e a única opção que enxergava era fugir. Dirigi-me aos fundos de um dos edifícios da escola, onde um muro alto se erguia diante de mim. Sem hesitar, pulei o muro e me vi na rua, com o coração ainda acelerado e uma sensação de alívio misturada com tristeza. "Nunca mais ponho meus pés aqui", pensava eu, sentindo uma mistura de raiva e tristeza em meu peito. Hoje, quando me olho no espelho, vejo meu rosto molhado pelas lágrimas que insistem em cair. A vontade de pular o muro e correr novamente ainda persiste em mim, pois os mesmos tapas, xingamentos, gritos e olhares continuam a me atingir, só que de maneiras diferentes. A dor é a mesma, a sensação de ser invisível, de não pertencer, de ser alvo de crueldade, me consome. A vontade de desaparecer e fugir para o nada é avassaladora, mas eu sigo lutando, mesmo que seja uma batalha interna diária para encontrar minha própria voz e minha própria identidade em meio a tanta dor e sofrimento.

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