quarta-feira, 14 de janeiro de 1998

Lá de cima onde ninguém me via. Ninguém me encontrava.

Do céu para a terra, minha perspectiva era única. Lá de cima, em meu refúgio secreto no telhado, eu observava o mundo ao meu redor com curiosidade e fascinação. Enquanto estava invisível para os outros, eu tinha uma visão privilegiada da vida cotidiana da vizinhança.

Certo dia, avistei duas senhoras idosas que cochichavam animadamente sobre os acontecimentos locais. Suas expressões e gestos me intrigavam, e eu tentava decifrar o que estavam falando. Mais adiante, vi meu vizinho briguento, conhecido como "playboy", agitado e irritado com algo que aconteceu. Ele gesticulava com raiva e eu imaginava o motivo de sua fúria.

Minha atenção então se voltou para minha amiga de infância, que saía de casa com uma mochila nas costas. Fiquei curioso para saber para onde ela estava indo e o que estava planejando. Os carros que passavam pela rua chamavam minha atenção, com suas cores e modelos variados. Eu imaginava as histórias que aconteciam dentro deles, os destinos para onde as pessoas estavam indo.

Mesmo estando lá em cima, em meu esconderijo, eu também sentia saudades de certas coisas. Saudades daquela árvore que costumava me esconder quando eu era criança, o local onde eu passava horas brincando e observando o mundo ao redor. A lembrança da sensação de estar protegido sob sua sombra me trazia uma nostalgia profunda.

As tardes de novembro eram especialmente tranquilas e eu apreciava a calma da rua vista do alto. Eu observava as pessoas passarem, os animais que transitavam pelas calçadas, os eventos que aconteciam na vizinhança. Mesmo sendo um observador invisível, eu me sentia conectado ao mundo ao meu redor, absorvendo cada detalhe com curiosidade e fascínio.

Ao mesmo tempo, porém, eu me sentia solitário. Lá de cima, eu tinha uma perspectiva única, mas também estava isolado dos outros. Eu não podia interagir com as pessoas ou compartilhar minhas próprias experiências. Eu observava a vida acontecer ao meu redor, mas me sentia distante, como se estivesse em um mundo separado.

Às vezes, eu me questionava sobre minha invisibilidade. Por que as pessoas não me viam? Será que eu era apenas um observador passivo, destinado a assistir a vida dos outros de longe, sem ser notado? Esses pensamentos me deixavam triste e melancólico, mesmo enquanto eu continuava a observar o mundo ao meu redor.

No entanto, mesmo com essa sensação de isolamento, eu também encontrava conforto em minha posição única. Lá de cima, eu podia ver a beleza e a complexidade da vida cotidiana, as nuances e os detalhes que muitas vezes passavam despercebidos. Eu desenvolvia uma compreensão mais profunda das pessoas e do mundo, e isso me fazia sentir especial de alguma forma.

Com o tempo, minha perspectiva mudou. Eu percebi que, embora eu pudesse ver o mundo de lá de cima, vi que não poderia ficar lá a vida toda. Um dia, eu seria visto.

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